terça-feira, 25 de março de 2008

Família e Economia

Pelo lado econômico, a família funciona de forma solidária, os pais sustentam os filhos e os avós já idosos, anos depois, os filhos cuidarão dos seus filhos e de seus pais que já serão idosos, e assim sucessivamente. Como a criança não tem autonomia para sobreviver, nem os idosos, a sobrevivência das sucessivas gerações depende vitalmente da solidariedade familiar. Na fase ativa de nossa vida, tipicamente dos 16 aos 64 anos, produzimos um excedente: é produzido mais do que consumido, e esse excedente serve para sustentar os avós, filhos, doentes, ou pessoas da família que não tem como se sustentar.
Nos dias de hoje, a família está mudando, a família está deixando de assegurar essa ponte entre produtores e não-produtores. A família ampla, composta por tios, avós, pais e filhos está deixando de existir dando lugar à família economicamente rentável ou família nuclear, que é a composta por pai, mãe e um casal de filhos. E mais recentemente até a família nuclear está desaparecendo, nos Estados Unidos, apenas 26% dos domicílios têm pai, mãe e filhos. Na Suécia, seriam 23%. Hoje se contam nos dedos os amigos que não estão divorciados. O próprio casamento não tem um futuro certo, a separação é bem normal nos dias de hoje e os filhos fora do casamento cada vez mais aumentam, há quarenta anos na Europa Ocidental apenas 5% dos filhos eram fora de casamentos e nos dias de hoje essa porcentagem ultrapassa os 30%. Esse distanciamento entre os membros da família, segundo Poster(1979), é devido à necessidade de economia capitalista, um consumismo exagerado, a TV e o automóvel, por exemplo, servem para isolar uns dos outros membros da família. Estatísticas referentes ao censo de 2000 apontam cerca de 20% da população do Brasil constituem famílias de 3 componentes, variando muito pouco esta porcentagem para as de 2 e 4 componentes. Por outro lado, com grande quantidade de componentes, como por exemplo, vinte membros, só existem 101 famílias no Brasil.


Consumo das Famílias

Existem muito poucos estudos no Brasil que abordam o tema dos orçamentos
familiares sob a perspectiva de gênero. Pouco se sabe sobre os perfis de consumo e
sobre os padrões de composição de renda de homens e mulheres e das famílias
chefiadas por cada um deles. Como será apontado mais adiante, a literatura existente
sobre esse tema – basicamente internacional – se concentra em análises que
privilegiam os modelos econômicos de decisões de consumo domiciliares (unitários
e coletivos), cujo objetivo é entender como os gastos familiares são alterados em
função de variações nas rendas e nas características de homens e mulheres que
formam casais. São estudos que têm como unidade de análise as famílias tradicionais,
heterossexuais e biparentais. Os novos arranjos familiares, especialmente o aumento
expressivo de famílias chefiadas por mulheres – sejam elas monoparentais ou
unipessoais –, não têm sido levados em conta na corrente econômica atual.


Homens x Mulheres

A chefia feminina constitui-se em fenômeno predominantemente urbano. Apenas 8% do total de famílias chefiadas por mulheres encontram-se no meio rural, enquanto entre os homens essa proporção é quase duas vezes maior. Significa que, do total de famílias rurais, apenas 14,5% possuem chefia feminina.
A distribuição dessas famílias entre as grandes regiões apresenta poucas diferenças em relação à distribuição das famílias chefiadas por homens. Aproximadamente 45% delas concentram-se na região Sudeste, o que reflete a própria distribuição da população pelo país. Com relação aos rendimentos das famílias chefiadas por mulheres, de que se vai tratar com maior detalhamento nas próximas seções, observa-se que são sistematicamente inferiores aos masculinos e, para 44% dessas famílias, as transferências constituem o seu rendimento predominante, o que está
relacionado à alta proporção de mulheres idosas vivendo com aposentadorias e pensões.
Seguindo a tendência que aponta para o maior nível de escolaridade das
mulheres, enquanto 7,7% das chefes mulheres possuem ensino superior completo,
essa proporção cai para 6,2% entre os homens chefes. Há também maior proporção
de mulheres sem instrução em comparação aos homens (16% contra 11%), o
que está relacionado, em grande parte, às condições educacionais das mulheres
com 45 anos ou mais de idade, que ainda apresentam taxas elevadas de analfabetismo
e superiores às encontradas para os homens.
O fenômeno da chefia de família feminina está relacionado com a crescente
inserção das mulheres no mercado de trabalho desde a década de 1970, com as
mudanças culturais, a dissolução dos casamentos e a maior expectativa de vida
entre as mulheres. Isso faz com que cerca de 30% das chefes de família tenham
idade igual ou superior a 60 anos: são mulheres, em geral viúvas, que vivem de
aposentadorias e pensões, estando, assim, acima dos limites da pobreza.